Biogás nas Escolas Rurais

Biogás nas Escolas Rurais

A Revolução Silenciosa do Ensino no Campo

Por Heleno Quevedo de Lima,

Há algo de especial na rotina de algumas escolas rurais do Brasil. O sino toca, mas não são apenas carteiras e lousas que aguardam os alunos; é o campo, vivo, pulsante, repleto de oportunidades. Ali, a educação não se limita a teorias distantes da realidade: ela se entrelaça com a terra, com os animais e com a dinâmica de um mundo que depende da natureza para sobreviver. Neste cenário, os biodigestores emergem como uma ferramenta pedagógica transformadora, impulsionando não apenas a produção de energia limpa, mas também um novo modo de pensar a educação e a permanência do jovem no campo.

Educação como vetor de desenvolvimento rural

No Brasil, a educação rural ainda enfrenta desafios significativos. O êxodo juvenil para as cidades se intensifica pela falta de perspectivas de crescimento e pela defasagem tecnológica nas atividades agropecuárias. Nesse sentido, a integração de sistemas anaeróbios no ensino representa uma estratégia valiosa. Mais do que um sistema de tratamento de resíduos, o biodigestor pode ser visto como um catalisador de conhecimento, promovendo a compreensão de conceitos como microbiologia, economia circular, sustentabilidade na prática e desenvolvimento do empreendedorismo.

Escolas que adotam essa abordagem podem despertar o interesse dos alunos por ciências agrárias, ambientais e tantas outras áreas do conhecimento, estimulando a pesquisa e o desenvolvimento de soluções inovadoras para a produção rural. Além disso, professores capacitados para utilizar biodigestores como ferramenta didática podem inspirar os alunos a enxergarem o campo como um espaço de inovação e oportunidade, em vez de um destino de limitação econômica e social.

Projetos de extensão rural: entre o saber acadêmico e o saber popular

A academia, muitas vezes, parece um castelo distante da realidade rural. Projetos de extensão rural cumprem um papel essencial ao conectar esses dois mundos, permitindo que o conhecimento gerado em universidades seja efetivamente transferido para os produtores rurais. O uso de biodigestores em projetos de extensão não apenas fomenta o uso de tecnologias sustentáveis, mas também reforça o papel do ensino como um agente de mudança social e econômica.

Ao participar de tais projetos, estudantes têm a chance de aplicar seus conhecimentos na resolução de problemas reais, aprendendo diretamente com agricultores e adaptando soluções tecnológicas às necessidades locais. Para o produtor rural, a experiência representa mais do que acesso a uma tecnologia eficiente; é a oportunidade de enxergar o ensino como um aliado na melhoria da sua produtividade e qualidade de vida.

O biodigestor como símbolo de permanência e identidade

A educação rural não pode se limitar a reproduzir um modelo urbano de ensino. Ela precisa considerar os elementos culturais, sociais e locais que fazem parte da identidade do homem do campo. O biodigestor, nesse contexto, se torna um símbolo dessa integração: ao mesmo tempo em que moderniza as práticas agrícolas e de saneamento rural, ele resgata a autonomia dos agricultores e valoriza os saberes locais.

Imagine uma escola onde os alunos não apenas aprendem sobre fotossíntese e cadeia alimentar nos livros, mas também compreendem, na prática, como a matéria orgânica ao se decompor pode ser transformada em energia limpa. Onde, ao lado dos professores, descobrem como o esterco de seus animais pode gerar gás para cozinhar ou eletricidade para iluminar a comunidade. Essa realidade não é um sonho distante; é um caminho possível e necessário para garantir a sustentabilidade do meio rural brasileiro.

Conclusão: o futuro passa pelo campo

O biodigestor nas escolas não é apenas um instrumento tecnológico, mas uma estratégia pedagógica para transformar a relação entre educação e campo. Ele representa um convite à reflexão sobre o futuro da juventude rural, sobre a valorização da produção sustentável e sobre a construção de um Brasil onde o conhecimento floresce não apenas nas salas de aula, mas também entre cercas e plantações.

O biodigestor nas escolas é um elemento fundamental para a capacitação dos produtores rurais, transformando-os em Biometanocultores qualificados. Com conhecimento técnico e estratégico, eles estarão preparados para tomar decisões assertivas, integrando a gestão de resíduos agropecuários a modelos de negócios sustentáveis, capazes de gerar receita e aumentar a lucratividade no campo.

Se quisermos um futuro mais sustentável, mais inovador e mais justo, precisamos começar pelo começo: ensinando nossas crianças e jovens que o campo não é só um lugar de produção, mas também um espaço de aprendizado, criatividade e pertencimento. 

Concluímos com um convite à reflexão sobre a importância da autossuficiência energética, hídrica e de nutrientes no campo, fortalecendo a conexão entre a gestão sustentável dos resíduos agropecuários e a prosperidade dos produtores rurais.

Referências Consultadas

• Biodigestor caseiro feito por estudantes e professor de Escola Cidadã Integral Técnica Estadual Chiquinho Cartaxo, localizada na cidade de Sousa – PB, beneficia agricultor da zona rural de Sousa (16/07/2021) 
• Biodigestor ecológico é entregue na zona rural de Taubaté – SP (10/06/2014)
• Biodigestor leva lições de sustentabilidade para escola em Guaíra – PR (23/03/2025)
• Biodigestores estão sendo implantados em 20 escolas de nove municípios da região Norte de Minas Gerais (26/10/2023)
• CARTAXO et al. Biodigestor caseiro como ferramenta metodológica para o ensino de educação ambiental nas escolas. Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental, [S. l.], v. 9, n. 2, p. 214–230, 2020. DOI: 10.19177/rgsa.v9e22020214-230. Acesso em: 29 mar. 2025.
• Escola Estadual de Ensino Fundamental João XXIII, de Maximiliano de Almeida – RS (12/04/2024)
• Governo do Tocantins entrega biodigestores para escolas de comunidades indígenas e quilombolas do Estado (27/08/2024)
• LEITE, Diego Coêlho; do CARMO, Ellen Patrícia Marques; Biodigestor caseiro: proposta interdisciplinar para o ensino de Ciências através de oficinas pedagógicas numa escola em zona rural. Dossiê – in: Redin - Dossiê "Meio ambiente, natureza, comunicação e educação" v. 11 n. 1 (2022). Disponível em:  https://seer.faccat.br/index.php/redin/article/view/2614
• MATSUDA, Gabriel; PEREIRA, Cristiano; ROSETTI, Mylena Kellyn de Paula; ORTH, Jaqueline Tomasini. Biodigestor caseiro: promovendo educação ambiental através da participação dos alunos. In: 7º Congresso Sul-Americano de Resíduos Sólidos e Sustentabilidade, 2024, Curitiba. Anais... Curitiba: 7º ConReSol, 2024. DOI: 10.55449/conresol.7.24.III-011
• SILVA, Cássia Solange. Biodigestor rural como ferramenta para a aprendizagem de conceitos ecológicos e saberes ambientais. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional- PROFBIO, do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Minas Gerais. Orientador: Dr. Daniel Marchetti Maroneze. Belo Horizonte, 2022. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/53734

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