Entrevista com Diego Nicoletti, COO do Grupo Solví

Grupo Solví e a UVS Caieiras | Diego Nicoletti

Entrevista sobre Inovação em Biogás e Biometano

por Heleno Quevedo,

A gestão sustentável de resíduos é um dos pilares essenciais para a economia circular e a transição energética no Brasil. Nesse cenário, o Grupo Solví  se destaca como uma das principais empresas do setor, liderando soluções ambientais inovadoras e investindo na valorização energética dos resíduos.

Com mais de 50 anos de atuação, o Grupo Solví  opera 60 Unidades de Valorização Sustentável (UVSs) no Brasil, Argentina e Peru, atendendo mais de 6 mil clientes privados e 400 clientes públicos. A empresa tem papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas, promovendo a captação e o aproveitamento do biogás gerado nos aterros sanitários.

Unidade de Valorização Sustentável - UVS Caieiras

Localizada no estado de São Paulo, a UVS Caieiras é uma das infraestruturas mais modernas e com maior número de tecnologias do país para disposição final, tratamento e valorização de resíduos sólidos urbanos e industriais. Com 350 hectares de área, o local abriga tanto um aterro classe II (para resíduos domiciliares e industriais) quanto um aterro classe I (para resíduos perigosos). Além disso, a unidade conta com uma usina termelétrica a biogás de 30 MWh de capacidade instalada, que converte biogás em energia elétrica, limpa e renovável, evitando a emissão de mais de 1 milhão de toneladas de CO₂eq por ano.

Também possui em seu parque multi tecnológico, uma planta de blendagem de resíduos, para produção de CDR – Combustível Derivado de Resíduos, substituindo os combustíveis fósseis para os fornos de cimento; Uma central de triagem de resíduos sólidos urbanos, que possibilita a valorização dos resíduos antes de sua disposição final no aterro; E uma planta de dessorção térmica para tratamento de solo contaminado com hidrocarboneto, que, após tratado, é utilizado para cobertura dos aterros ou retornado a sua origem.

Destaque para a Produção de Biogás e Biometano

Um dos projetos mais estratégicos do Grupo Solví é o aproveitamento do biogás gerado pela decomposição dos resíduos para produção de energia elétrica e biometano, um combustível renovável que substitui o gás natural de origem fóssil.

• Captação e aproveitamento do biogás para geração de energia térmica e elétrica.
• Produção de biometano na unidade de Caieiras, com capacidade de aproximadamente 70.000 m³/dia.
• Contribuição para a descarbonização e redução das emissões de gases de efeito estufa.

Com esses projetos, o Grupo Solví reforça seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade, tornando-se um dos principais agentes da transição energética no Brasil. 

Sobre os projetos de recuperação do biogás, mitigação dos gases de efeito estufa, descarbonização, transição energética e economia circular conversamos com Diego Nicoletti, COO do Grupo Solví. Em uma entrevista exclusiva ao Portal Energia e Biogás falou sobre os detalhes das plantas, desafios e oportunidades dos projetos de biogás e biometano do Grupo Solví.

Entrevista: Planta de Biometano em Caieiras

Apresentação

1. Portal Energia e Biogás: Para começarmos, poderia se apresentar aos nossos leitores, destacando seu papel na implementação da planta de biometano em Caieiras e sua experiência no setor de energias renováveis, mais especificamente no setor de biogás?

Diego Nicoletti: Meu nome é Diego Nicoletti, sou formado em Engenharia Ambiental pela Escola de Engenharia de Piracicaba, com mais de 22 anos de experiência no setor e atuando a 17 anos no Grupo Solví, atualmente ocupo a posição de COO (Chief Operating Officer) na empresa. Tenho dedicado minha carreira ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para tratamento e valorização energética de resíduos, e a planta de Biometano em Caieiras pode ser considerada um dos marcos nesse esforço. 

Sobre o Mercado

2. Antes de nos aprofundarmos nas possibilidades de valorização do biogás, conta para nós o que é o biogás? E como ele é produzido?

O biogás é gerado a partir da decomposição anaeróbica da fração orgânica depositada em nossos aterros, na decomposição desses resíduos são liberados gases altamente contribuintes para o efeito estufa como: metano (CH₄) e dióxido de carbono (CO₂). Gases altamente nocivos a camada de ozônio. Ao fazermos a captação desses gases e a queima controlada em nossas UVSs, ocorre a quebra da molécula de metano em dióxido de carbono (CO₂), que é 28x menos danoso para o efeito estufa.

3. E como citou a questão gases de efeito estufa, qual o apoio do Grupo Solví na mitigação das mudanças climáticas Diego?

Somos grandes agentes mitigadores do impacto da emissão dos resíduos gerados pela população, uma vez que a disposição dos resíduos são em aterros sanitários devidamente impermeabilizados, e com drenos verticais que acompanham o alteamento dos aterros, para captação do biogás gerado na decomposição e assim sua queima controlada. Desde o início das nossas operações, já evitamos emissão de mais de 28 milhões de tCO₂eq/t. 

Somos pioneiros na emissão de créditos de carbono provenientes de aterro sanitário, certificados pela ONU e Comercializamos os créditos a muito tempo via mercado livre para grandes geradores, antes mesmos do mercado falar sobre reaproveitamento do biogás. Uma curiosidade que talvez muitos não saibam, é que cada pessoa gera em média 6 toneladas de carbono equivalente por ano, e hoje, a Solví possibilita a compensação da emissão de carbono, por meio da nossa plataforma Smartie Carbon, que proporciona a pessoa física e as indústrias a compensarem sua pegada de carbono.

4. Agora que entendemos o é o biogás, e qual o papel do Grupo Solví, o que é feito com este biogás? Qual a relação entre o biogás, biotérmicas e o Biometano?

Fazemos a captação do biogás por meio de uma rede de dutos distribuídos pelos aterros, esta captação ocorre de maneira forçada por sopradores. No Grupo Solví temos 2 tipos de valorização do biogás, geração de energia elétrica limpa, por meio das termoelétricas, e produção de biocombustível, o biometano.

→ Termoelétricas - O biogás passa por um processo de filtragem do gás para remoção das impurezas (como umidade e partículas) que são succionadas do aterro, a partir da utilização de motogeradores movidos a combustão, transformamos energia térmica em energia mecânica, e por fim energia elétrica sustentável, e está inserida na rede elétrica. Atualmente a Solvi possui 11 usinas termoelétricas com cerca de 60 MW instalados.

→ Biometano - Neste processo o biogás é purificado, removendo impurezas e gases indesejados (como CO₂, sulfetos e vapor d'água) aumentando assim a concentração em mais de 90% de metano, que por sua vez é convertido em combustível renovável. O biometano é um substituto direto do GN (Gás Natural) e pode ser injetado em gasodutos de distribuição ou transportado por via rodoviária até o cliente final, como é o caso do Grupo Solví atualmente, que hoje possui 1 planta já em produção na UVS Caieiras, a Essencis Biometano, e outra para ser inaugurada ainda este ano no Rio Grande do Sul.

5. Quais foram os principais motivadores para o investimento na planta de biometano em Caieiras, e como esse projeto se alinha com a estratégia de sustentabilidade e transição energética da empresa?

Nosso principal motivador foi a necessidade de avançar na descarbonização do setor de resíduos. O projeto está alinhado à estratégia de sustentabilidade do Grupo Solví de aliar progresso e sustentabilidade com soluções tecnológicas inovadoras. Uma vez que reduz emissões de CO₂ e transforma resíduos em energia renovável, promovendo a transição energética e a economia circular.

6. Com uma capacidade de produção de aproximadamente 70 mil m³/dia de biometano, quais são as expectativas em relação ao impacto no mercado de biocombustíveis e no atendimento às demandas industriais off-grid?

A planta tem um impacto significativo no mercado, atendendo indústrias off-grid com biocombustíveis sustentáveis. Isso contribui para a consolidação do mercado de biometano no Brasil, fortalecendo a segurança energética, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e impactando positivamente o processo de descarbonização da indústria.

7. A emissão de CBIOs pelo Programa RenovaBio é uma das estratégias para agregar valor ao projeto. Como a empresa enxerga o papel desse mecanismo na ampliação do mercado de biocombustíveis e na viabilidade financeira de novos projetos?

Os CBIOs são complementares para tornar projetos como este financeiramente viáveis. Eles incentivam novos investimentos no setor, fortalecem o mercado de biocombustíveis e ajudam a valorizar iniciativas sustentáveis como a nossa planta de biometano.

Aspectos Técnicos

8. Quais são os principais desafios operacionais no processo de purificação do biogás para transformá-lo em Energia Elétrica na planta de geração de Caieiras?

Um dos principais desafios é lidar com os siloxanos presentes no biogás, que podem danificar equipamentos críticos como pistões e válvulas. Para mitigar isso, implementamos rotinas de manutenção preventiva rigorosa, garantindo eficiência operacional.

9. O que torna a tecnologia implementada na planta de biometano eficiente e sustentável em comparação com outras tecnologias disponíveis no mercado?

Utilizamos tecnologias de última geração que maximizam a eficiência na purificação do biogás e minimizam emissões. Essas soluções garantem um produto final de alta qualidade, ao mesmo tempo que promovem a sustentabilidade ambiental.

10. Como é feita a manutenção e monitoramento dos equipamentos para garantir a produção diária de 70 mil m³ de biometano com consistência e qualidade?

Contamos com uma sala de controle equipada com tecnologia de ponta para monitorar todo o processo em tempo real. Além disso, realizamos manutenções preventivas e corretivas regulares de acordo com a periodicidade indicada pelo fornecedor para assegurar a qualidade e consistência na produção.

Integração entre Produção e Captação

11. Quais são os principais desafios na interface entre a captação do biogás bruto no aterro e sua entrega à unidade de produção de biometano?

O principal desafio é garantir um fluxo constante e de qualidade do biogás captado no aterro até a planta. Isso exige um trabalho técnico cuidadoso para otimizar o transporte, evitar perdas e contaminação por oxigênio e nitrogênio (presentes no ar) no processo.

12. Como é realizado o controle da qualidade e da quantidade do biogás captado no aterro antes de chegar à planta?

Realizamos análises em tempo real da composição química do biogás além de um rigoroso sistema de acompanhamento em campo de cada poço de captação, isso nos permite garantir que ele atenda aos padrões necessários para a purificação e conversão em biometano.

13.    Quais práticas têm sido implementadas para otimizar a logística e a eficiência na operação entre a UVS e a planta de biometano?

Adotamos redes de transporte otimizadas e uma coordenação integrada entre as unidades. Isso reduz custos operacionais e emissões, melhorando a eficiência do sistema como um todo.

Modelo de Negócio e Transição Energética

14. Como a Biometano Caieiras está contribuindo para atender à crescente demanda por biocombustíveis no contexto da transição energética e da redução de emissões de carbono?

Nossa planta atende diretamente à demanda por biocombustíveis ao substituir combustíveis fósseis por uma alternativa renovável. Além disso, ajudamos a reduzir emissões e fortalecemos a matriz energética sustentável do Brasil.

Encerramento e Inspiração

15. Portal Energia e Biogás: Que mensagem você gostaria de deixar sobre o case de Caieiras para inspirar o desenvolvimento de novos projetos de biometano no Brasil?

Diego Nicoletti: O case de Caieiras demonstra que inovação e sustentabilidade podem andar lado a lado. Espero que nossa experiência inspire outros a investir em soluções que beneficiem tanto o meio ambiente quanto a sociedade, construindo um futuro mais sustentável para todos.

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Agradecimentos

Gostaríamos de expressar nosso sincero agradecimento ao Grupo Solví por nos proporcionar a oportunidade de realizar a visita técnica à UVS Caieiras. Foi uma experiência enriquecedora, essencial para ampliarmos nosso entendimento sobre a operação do aterro sanitário e compartilharmos informações relevantes com nossos leitores.

Nosso especial agradecimento ao Diego Nicoletti pelo bate-papo esclarecedor e por compartilhar conosco seu vasto conhecimento e experiência. Suas contribuições foram de grande valor e certamente enriquecerão nosso conteúdo.

Agradecemos também à Aline Lemos Ramos, Coordenadora de Comunicação, Marketing e Responsabilidade Social do Grupo Solví, bem como à Brenda Camargo e à equipe de Assessoria de Imprensa da Agência Race, pela atenção, suporte e profissionalismo ao longo de todo o processo.

Acreditamos que a troca de experiências e o compartilhamento de conhecimento são fundamentais para o fortalecimento do setor e o avanço de soluções sustentáveis. Foi um prazer contar com essa parceria!

Muito obrigado!