Perda de volume útil em reatores de biogás

publicado em 11/06/2025 01:08 e atualizado em 11/06/2025 01:25
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Perda de volume útil em reatores de biogás compromete a produção e aumenta custos! Descubra como o assoreamento impacta a eficiência, como identificar o problema e aplicar soluções para otimizar o rendimento e a estabilidade do processo.
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Foto: Divulgação no perfil Jörg Grondke, no LinkedIn.
Operação e Manutenção (O&M)
Artigo Técnico

Perda de volume útil em reatores de biogás

Assoreamento: impactos, identificação, soluções e benefícios do controle

1. Introdução

A produção de biogás e biometano em plantas de digestão anaeróbia é uma tecnologia promissora para a geração de energia renovável e o tratamento de substratos orgânicos, seja eles resíduos ou culturas energéticas. No entanto, a eficiência e a produtividade dessas plantas podem ser significativamente comprometidas pela perda de volume útil nos reatores industriais ou biodigestores rurais. Fenômenos como sedimentação,   e a formação de zonas mortas reduzem o espaço disponível para a digestão anaeróbia, impactando diretamente o rendimento do biogás e a viabilidade econômica da operação.

Hoje vamos aborda a importância da manutenção do volume útil em reatores de biogás, os prejuízos financeiros e operacionais causados pela sua redução, métodos para identificar e solucionar esses problemas, e os benefícios de um controle rigoroso dessa etapa para otimizar a produção de biogás e biometano.

 

2. A relação entre volume útil e produção de biogás

O volume útil de um reator anaeróbio refere-se à porção do volume total do tanque que está efetivamente disponível para o processo de digestão da matéria orgânica. É nesse espaço que os micro-organismos anaeróbios atuam na decomposição da biomassa, resultando na produção de biogás, composto principalmente por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). A eficiência da produção de biogás é diretamente proporcional ao volume útil e à carga orgânica volumétrica (COV) aplicada ao reator [1].

Em termos práticos, a quantidade de biogás que pode ser produzida por metro cúbico útil de reator varia consideravelmente dependendo do tipo de substrato, da temperatura, do tempo de retenção hidráulica (TRH) e da tecnologia do reator. Estudos indicam que a produção de biogás pode variar de 0,1418 m³ a 0,3116 m³ por kg de sólidos totais adicionados, ou de 0,030 a 0,175 m³ de biogás por m³ de reator por dia [2, 3]. A otimização do TRH é crucial para garantir que a matéria orgânica seja decomposta eficientemente, maximizando a produção de biogás [4].

 

3. Prejuízos causados pela perda de volume útil

A redução do volume útil dos reatores industriais ou biodigestores rurais., seja por sedimentação de sólidos, acúmulo de material inerte ou formação de zonas mortas, acarreta uma série de prejuízos financeiros e operacionais:

3.1. Redução da eficiência e produtividade: Com a diminuição do volume útil, a capacidade de tratamento do reator é reduzida, levando a uma menor produção de biogás por unidade de volume total do biodigestor. Isso se traduz em menor geração de energia e, consequentemente, em perdas financeiras para a planta. A presença de zonas mortas, onde o substrato não é adequadamente misturado ou não entra em contato com a biomassa microbiana ativa, interfere significativamente na eficiência do processo [5].

3.2. Aumento dos custos operacionais: O acúmulo de sólidos e a formação de zonas mortas podem levar à necessidade de limpezas mais frequentes e complexas do reator, o que aumenta os custos com mão de obra, equipamentos e descarte de resíduos. Além disso, a menor eficiência do processo pode exigir um maior consumo de energia para manter as condições ideais de temperatura e agitação, elevando os custos operacionais gerais.

3.3. Problemas de estabilidade do processo: A perda de volume útil pode desestabilizar o processo de digestão anaeróbia, levando a variações no pH, na concentração de ácidos voláteis e na composição do biogás. Essa instabilidade pode resultar em menor qualidade do biogás (menor teor de metano) e até mesmo na paralisação do reator, gerando perdas significativas de produção e receita.

3.4. Danos estruturais e desgaste de equipamentos: O acúmulo excessivo de sólidos pode exercer pressão sobre as estruturas internas do biodigestor, causando danos e desgastes prematuros em agitadores, bombas e outros equipamentos. Isso pode levar a custos elevados de manutenção e substituição de peças, além de paradas não programadas da planta.

 

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4. Identificação da perda de volume útil

A identificação precoce da perda de volume útil é fundamental para mitigar seus impactos. Diversos métodos podem ser empregados para monitorar e diagnosticar esse problema:

4.1. Monitoramento da produção de biogás: Uma queda inexplicável na produção de biogás, especialmente em relação à carga orgânica aplicada, pode ser um indicativo de perda de volume útil. O monitoramento contínuo da vazão e da composição do biogás (teor de metano) pode alertar os operadores sobre a necessidade de investigação.

4.2. Medição de nível e volume: A medição regular do nível do substrato dentro do reator, combinada com o conhecimento do volume total do tanque, pode ajudar a estimar o volume útil disponível. Tecnologias como sensores ultrassônicos ou de pressão podem ser utilizadas para esse fim. No entanto, essas medições podem não ser suficientes para identificar zonas mortas ou acúmulos irregulares.

4.3. Inspeção visual e amostragem: Em alguns casos, a inspeção visual interna do reator, quando possível e segura, pode revelar a presença de camadas de sedimentos ou acúmulo de material. A coleta de amostras em diferentes profundidades e locais do reator pode fornecer informações sobre a distribuição de sólidos e a atividade microbiana.

4.4. Uso de tecnologias avançadas: Tecnologias como sonar, batimetria ou perfilagem de sólidos podem ser empregadas para mapear o perfil do leito de sólidos e identificar zonas mortas com maior precisão. Essas ferramentas fornecem uma imagem tridimensional do interior do reator, permitindo uma avaliação detalhada do volume útil e da distribuição dos sólidos.

 

5. Soluções para a perda de volume útil

Uma vez identificada a perda de volume útil, diversas estratégias podem ser implementadas para solucionar o problema e restaurar a eficiência do reator:

5.1. Otimização da agitação - A agitação adequada do substrato é crucial para evitar a sedimentação e garantir o contato homogêneo entre a biomassa e os microrganismos. A otimização dos sistemas de agitação, seja por meio de agitadores mecânicos, bombas de recirculação ou injeção de biogás, pode prevenir o acúmulo de sólidos e eliminar zonas mortas. Em alguns casos, a intensificação da agitação por curtos períodos pode ser necessária para ressuspender sólidos sedimentados [6].

5.2. Remoção de sólidos sedimentados - Para casos de acúmulo significativo de sólidos, a remoção mecânica ou hidráulica pode ser necessária. Isso pode ser feito através de drenos de fundo, sistemas de raspagem ou, em situações mais extremas, esvaziamento parcial ou total do reator para limpeza. A frequência e o método de remoção dependerão da taxa de acúmulo de sólidos e da natureza do substrato.

5.3. Pré-tratamento do substrato - O pré-tratamento do substrato antes da alimentação no biodigestor pode reduzir a quantidade de sólidos inertes e materiais que tendem a sedimentar. Isso pode incluir a separação de sólidos, trituração, peneiramento ou outros processos que visam homogeneizar o material e remover componentes indesejados.

5.4. Design otimizado do reator - Em novas instalações ou em reformas, um design de reator que minimize a formação de zonas mortas e facilite a remoção de sólidos pode ser considerado. Isso inclui a configuração do fundo do reator, a localização dos pontos de alimentação e descarga, e a disposição dos sistemas de agitação.

 

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6. Benefícios do controle do volume útil

O controle rigoroso do volume útil em plantas de biogás oferece uma série de benefícios que impactam positivamente a operação e a rentabilidade:

6.1. Otimização da produção de biogás e biometano: Ao garantir que o volume útil do reator esteja sempre maximizado, a planta pode operar em sua capacidade máxima de produção de biogás, resultando em maior geração de energia e, consequentemente, maior receita. A otimização do volume útil também contribui para a produção de biogás com maior teor de metano, facilitando a purificação para biometano.

6.2. Redução de custos operacionais e de manutenção: Um controle eficaz da sedimentação e das zonas mortas reduz a necessidade de limpezas frequentes e onerosas, diminuindo os custos com mão de obra e descarte de resíduos. Além disso, a menor incidência de problemas operacionais e danos a equipamentos resulta em menores custos de manutenção e maior vida útil dos ativos.

6.3. Maior estabilidade e confiabilidade do processo: A manutenção de um volume útil adequado e a prevenção de zonas mortas contribuem para a estabilidade do processo de digestão anaeróbia. Isso se traduz em uma produção de biogás mais consistente e de melhor qualidade, reduzindo o risco de paralisações e otimizando a operação da planta.

6.4. Sustentabilidade e conformidade ambiental: Uma planta de biogás que opera com eficiência máxima contribui para a sustentabilidade ambiental, maximizando a conversão de resíduos em energia renovável e reduzindo a emissão de gases de efeito estufa. O controle do volume útil também ajuda a garantir a conformidade com as regulamentações ambientais, evitando problemas relacionados ao descarte inadequado de resíduos ou à baixa qualidade do efluente tratado.

 

 

7. Considerações Finais

A perda de volume útil em reatores de biogás é um desafio significativo que pode comprometer a eficiência e a rentabilidade das plantas. No entanto, com a compreensão dos impactos, a aplicação de métodos eficazes de identificação e a implementação de soluções adequadas, é possível mitigar esses problemas.

O controle rigoroso do volume útil não apenas otimiza a produção de biogás e biometano, mas também reduz custos operacionais, aumenta a estabilidade do processo e fortalece o compromisso com a sustentabilidade. Investir em monitoramento e manutenção preventiva é essencial para garantir o sucesso a longo prazo das operações de biodigestão anaeróbia.

 

 

8. Referências

[1] Biogás e Energia. Volume de reatores anaeróbios. Disponível em: Energia e Biogás. Acesso em: 11 jun. 2025.

[2] EMBRAPA. Efeito da carga orgânica volumétrica sobre a produção de biogás a partir de dejetos de suínos em reator UASB. Disponível em: dejetos de suínos em reator UASB. Acesso em: 11 jun. 2025.

[3] Mendonça, H. V. de. Digestão anaeróbia para produção de energia renovável. Disponível em: alice.cnptia.embrapa.br. Acesso em: 11 jun. 2025.

[4] Biogás e Energia. No processo de produção de biogás, o que é TRH?. Disponível em: biogaseenergia.com.br. Acesso em: 11 jun. 2025.

[5] Ministério do Desenvolvimento Regional. Guia Técnico de aproveitamento Energético de Biogás em ETEs. Disponível em: Probiogás. Acesso em: 11 jun. 2025.

[6] Feiden, A. Avaliação da eficiência de um biodigestor tubular na produção de biogás. Disponível em: Scielo.br. Acesso em: 11 jun. 2025.

[7]  Grondke, J. Na alemanha - Linkedin.com
 

 

 

 

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