Entrevista a Günther Stocker, fundador e proprietário da Eta GaS

autor: Oscar Valmaña
publicado em 19/05/2025 23:05 e atualizado em 19/05/2025 23:47
aproximadamente 35min40s de leitura
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Na coluna Caminhos do Biogás, Oscar Valmanã traz uma entrevista exclusiva com Günther Stocker, CEO da Eta GaS, sobre como micronutrientes elevam a eficiência das plantas de biogás. Inovação e sustentabilidade em destaque, confira!
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Foto: fotomontagem CanvaPro
Colunista
Caminhos do Biogás, por Oscar Valmanã

Entrevista com Günther Stocker

Fundador e proprietário da Eta GaS Ltd. - Excelência em Digestão Anaeróbia

 

Por Oscar Valmanã — Colunista do Portal Energia e Biogás,

Conheça a Eta GaS, uma empresa italiana especializada em melhorar a eficiência das plantas de biogás através de soluções inovadoras de digestão anaeróbia. A empresa oferece um portfólio de serviços e produtos, incluindo assistência biológica, concepção de processos e aditivos nutricionais adequados para plantas de biogás. Estes aditivos, baseados em quelatos de micronutrientes essenciais como o ferro, níquel, cobalto, etc., foram desenvolvidos pelo doutor em Agronomia e CEO Günther Stocker e são produzidos por um prestigiado parceiro internacional. Seus produtos são padronizados para uso genérico e para silagem, e oferecem versões personalizadas. Os aditivos Eta GaS são produtos fáceis de dosar, seguros e sustentáveis, feitos com agentes quelantes disponíveis no mercado e foram registrados na Agência Europeia de Produtos Químicos (ECHA).

A Eta GaS é uma empresa especializada em soluções inovadoras para a produção de biogás. Com sede em Vipiteno,  província de Bolzano na Itália. Sua missão é atuar como um catalisador para aumentar a eficiência da digestão anaeróbica, integrando-a com energias renováveis complementares, como a tecnologia Power-to-Liquid. Com um foco global, a Eta GaS procura disseminar a inovação em energias renováveis pelo mundo, promovendo conceitos de economia circular e energia local acessível.

Para contar um pouco sobre esse case internacional aos nossos leitores, Oscar Valmaña García, colunista do Portal de Energia e Biogás, e Heleno Quevedo de Lima, Fundador do Portal Energia e Biogás, conversaram com o doutor Günther Stocker, que para além de CEO da empresa Eta GaS, é engenheiro agrônomo especializado em nutrição animal com uma vasta experiência no processo de digestão anaeróbia e em plantas de biogás. Durante uma conversa descontraída, o doutor Günther compartilhou um pouco da sua trajetória profissional, sobre o desenvolvimento da empresa, a cultura corporativa que cultiva entre colaboradores, clientes e fornecedores. Destacou a abordagem tecnológica, entre outros temas. Confira esse bate-papo inspirador sobre soluções técnicas e desenvolvimento de negócios no setor de biogás que o Portal de Energia e Biogás traz para os leitores.
 

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ENTREVISTA

APRESENTAÇÃO PESSOAL E DA EMPRESA

1) Portal Energia e Biogás: Sr. Günther, poderia falar-nos um pouco sobre a sua formação como engenheiro agrônomo e o que o inspirou a fundar a Eta GaS?

Sr. Günther: O meu nome é Günther Stocker e sou engenheiro agrônomo e zootecnista, especializado em nutrição bovina. Quando comecei na indústria do biogás em 2006, percebi imediatamente os pontos em comum entre a zootecnia e a tecnologia do biogás. Um desses pontos é a alimentação animal e os substratos empregados nas plantas de biogás. No setor agrícola, aprendi que alimentar ruminantes é alimentar os micro-organismos do rúmen, e este mesmo princípio aplica-se a um reator anaeróbio. No processo de digestão anaeróbia, devemos concentrar-nos nas necessidades específicas e nas condições ideais que aumentam a eficiência. A biodisponibilidade dos micronutrientes é uma condição necessária aos micro-organismos que co-habitam nos ruminantes e também aos micro-organismos presentes nos reatores anaeróbios. Nesse sentido, a utilização de aditivos à base de quelatos de micronutrientes é a minha abordagem para satisfazer esta necessidade do mercado e inspirou-me a fundar a minha empresa em 2019: a Eta GaS Ltd

 

 

 

O nome da empresa provém da união de dois termos: Eta, que é a sétima letra do alfabeto grego (η) e é frequentemente utilizada para indicar o desempenho de um processo, e GaS, que é a união das duas primeiras letras do meu nome e sobrenome (Günther Stocker), e que coincidentemente resulta na palavra “gás” quando adicionamos uma letra “a” entre elas, que faz lembrar a palavra biogás.

O foco principal do Eta GaS é a importância da dieta para ruminantes e de uma mistura equilibrada de substrato para o caso de um reator anaeróbio numa planta de biogás. A expertise da empresa reside na capacidade de diagnosticar com precisão deficiências na "dieta" de um digestor anaeróbio com base em variáveis e processo e biodisponibilidade de micronutrientes. Fornecemos uma solução que incorpora micronutrientes, especialmente oligoelementos, no reator sob a forma de quelatos de última geração, preparados de forma personalizada.

Compartilhar este conhecimento para ajudar a tecnologia (produção) do biogás a continuar a consolidar-se, a posicionar-se e a aumentar a receita das plantas de biogás em todo o mundo é realmente inspirador e gratificante para mim. E poder contribuir para o combate às mudanças climáticas para preservar o nosso futuro e o dos nossos filhos. 

 

2) Portal Energia e Biogás: Qual é a visão da Eta GaS para o futuro da digestão anaeróbia e das energias renováveis?

Sr. Günther: Na minha perspectiva, a digestão anaeróbia pode fazer uma enorme diferença na vida diária de todos e ajudar a combater as mudanças climáticas, desde mini plantas de biogás em vilarejos na África até plantas de biometano de estrume com capacidade acima de 1.000 t/d nos EUA; desde as plantas de biogás para vinhaça na América do Sul até as que utilizam palha de arroz ou lodos prensados na Índia.

No entanto, as plantas de biogás, especialmente as de escala industrial, devem ser concebidas e operadas de forma a que a máxima eficiência real do reator anaeróbio seja alcançada e mantida. Isto é essencial para que esta tecnologia tenha um impacto significativo na transição energética e no combate às mudanças climáticas. Neste sentido, o Eta GaS aborda o problema da baixa eficiência do digestor através do equilíbrio e otimização adequados das misturas de substratos e da incorporação de aditivos à base de quelatos de micronutrientes no reator anaeróbio para aumentar a  biodisponibilidade. Assim, a Eta GaS atuará como um catalisador, oferecendo soluções eficazes e inovadoras para aumentar a eficiência e a qualidade na produção de biogás; mesmo para instalações que tenham a visão Power-to-Liquid (PtL), ou seja, a produção de eletricidade pela combinação de outras fontes de energia renováveis para obter combustíveis especiais (hidrogênio, metanol etc.) através de eletrólise ou outras tecnologias baseadas em reações químicas.

Na Eta GaS, acreditamos firmemente na importância de utilizar todas as formas de energia renovável com a máxima eficiência. Isto é vital na mudança de paradigma tecnológico para produzir energia e utilizá-la de forma sustentável. É também necessário estabelecer conceitos de energia circular, local, simples e acessíveis em todo o mundo.

A visão da Eta Gas é "excelência na digestão anaeróbia" — na verdade, é esse o nosso slogan. Somos movidos pela paixão, empenho e coragem para entregar soluções inovadoras e seguras aos nossos parceiros e clientes. Através do trabalho em equipe, garantimos os melhores serviços e produtos disponíveis, direcionados para as necessidades de clientes exigentes. O nosso objetivo é contribuir para melhorar a tecnologia de digestão anaeróbia, levando soluções sustentáveis e de ponta a todos os cantos do mundo e estabelecendo parcerias comerciais globais valiosas e inovadoras.

 

PRODUTOS E INOVAÇÃO

3) A Eta GaS destaca-se pela utilização de quelatos de micronutrientes utilizando agentes quelantes de última geração. Pode explicar aos nossos leitores o que são quelatos de micronutrientes? 

Sr. Günther: Em primeiro lugar, os micronutrientes, também conhecidos como minerais traços, oligoelementos ou metais traços, são substâncias essenciais de que os organismos necessitam em quantidades muito pequenas, geralmente medidas em partes por milhão (ppm) ou microgramas por grama (mg/g). Apesar da presença mínima, desempenham um papel crucial em vários processos biológicos e são vitais para a manutenção da saúde e do funcionamento adequado das plantas, animais e micro-organismos.

Como exemplos de oligoelementos podemos referir os seguintes: ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn), cobalto (Co), molibdênio (Mo), selênio (Se), níquel (Ni), iodo (I), entre outros. Todos elementos desempenham um papel vital nos organismos. O Fe, por exemplo, é essencial para o transporte de oxigénio no sangue e está envolvido em diversas reações enzimáticas; O Zn é necessário para a função imunitária, síntese protéica, como cofator para inúmeras enzimas, , entre outros; O Mn é crucial na formação óssea, na coagulação sanguínea e no metabolismo dos hidratos de carbono, aminoácidos e colesterol; O Co é um componente da vitamina B12 e é essencial para a produção de glóbulos vermelhos e para a função neurológica; E vamos terminar com o Mo, que atua como cofator para enzimas envolvidas no metabolismo dos aminoácidos que contêm enxofre e na desintoxicação de certos compostos.

Então, quando dizemos quelatos, referimo-nos à união química de oligoelementos a moléculas inorgânicas para formar um complexo orgânico estável.

Portanto, a quelação é um processo químico em que um íon metálico, liga-se a uma molécula que atua como agente quelante ou ligante, formando uma estrutura ou complexo estável. Este processo melhora a solubilidade, a estabilidade e a biodisponibilidade dos oligoelementos, tornando-os mais acessíveis e utilizáveis pelos vegetais, animais e micro-organismos. Ocorre naturalmente e o homem reproduz essa condição conforme a o seu interesse.

Na Eta GaS, desenvolvemos dois quelatos de micronutrientes padronizados com base na última geração de agentes quelantes avançados, como o EDDH-A (ácido etilenodiamino dihidroxifenilacético) ou o ácido etilenodiamino-N,N’-bis(2-hidroxifenil)acético, e zeólitas sintéticas com elevada capacidade de adsorção e troca iónica. Desta forma, oferecemos ao mercado de biogás quelatos inovadores e de ponta para a integração perfeita de micronutrientes em todos os tipos de plantas de biogás. 

 

4) De que forma estes produtos contribuem para aumentar a eficiência das plantas de biogás?

Sr. Günther: Excelente pergunta! Consegue imaginar um ciclista a correr o Tour de France sem bebidas isotônicas?
Todos os processos biológicos requerem enzimas e algumas enzimas precisam micronutrientes para seu funcionamento. Os oligoelementos são micronutrientes essenciais para o funcionamento das enzimas no processo de digestão anaeróbia. Cada célula necessita de macro e micronutrientes para desempenhar o seu papel no processo. O número de micro-organismos só pode aumentar se os oligoelementos estiverem biodisponíveis. Quanto maior a contagem de células, melhor!

Os quelatos de oligoelementos tornam o processo da central de produção (planta) de biogás mais estável, eficiente e altamente econômico.

 

5) Por que é importante utilizar quelatos ou agentes quelantes para incorporar micronutrientes no processo de digestão anaeróbia?

Sr. Günther: A utilização de quelatos para incorporar micronutrientes no processo de digestão anaeróbia é importante por várias razões:

  • Promove a biodisponibilidade: Os agentes quelantes ligam-se aos micronutrientes e formam complexos muito estáveis. Isso melhora a solubilidade e a biodisponibilidade destes nutrientes, tornando-os mais acessíveis aos micro-organismos envolvidos na digestão anaeróbia. Muitos micronutrientes podem estar presentes em formas que não são facilmente assimiladas pelos micróbios, e a quelação ajuda a convertê-los em formas facilmente absorvíveis.
  • Prevenção da precipitação: Nos digestores anaeróbios, determinadas condições (como o pH e a presença de outros íons) podem provocar a precipitação de micronutrientes, tornando-os inacessíveis aos microrganismos. Os agentes quelantes ajudam a manter estes nutrientes em solução, evitando a precipitação e garantindo um fornecimento constante de elementos essenciais para o metabolismo microbiano.
  • Proporciona estabilidade ao fornecimento de micronutrientes: Os quelatos podem proporcionar uma libertação mais estável e controlada dos micronutrientes ao longo do tempo. Isto é especialmente importante na digestão anaeróbica, onde a manutenção de níveis ótimos de nutrientes é crucial para a saúde e atividade da comunidade microbiana, além de prevenir deficiências que podem prejudicar a produção de metano.
  • Atenua a toxicidade: Alguns metais vestigiais em concentrações elevadas podem ser tóxicos para os micro-organismos. Os agentes quelantes podem ajudar a mitigar esta toxicidade ligando-se a estes metais e reduzindo a sua concentração no reator. Isto permite que os efeitos benéficos dos micronutrientes sejam obtidos sem prejudicar as populações microbianas.
  • Melhora a atividade microbiana: A presença de micronutrientes essenciais, facilitada pela quelação, favorece o crescimento e a atividade de populações microbianas importantes, particularmente os micro-organismos metanogênicos. Isto pode levar à melhoria da eficiência da digestão, ao aumento da produção de metano e à melhoria do desempenho global do processo de digestão anaeróbia.
  • Melhora a gestão de micronutrientes: A utilização de quelatos permite uma gestão mais precisa dos nutrientes em digestores anaeróbicos. Os operadores podem adaptar as adições de micronutrientes às necessidades específicas da comunidade microbiana e às características da matéria-prima, otimizando assim as condições de digestão.
  • Melhoram a fertilidade agronômica: A aplicação de digestão com oligoelementos quelados como biofertilizante irá melhorar a saúde do solo por promover uma atividade microbiana benéfica. Uma microbiota saudável do solo pode melhorar a ciclagem de nutrientes, a decomposição da matéria orgânica e a fertilidade geral do solo.
  • Redução da toxicidade: Os aditivos de micronutrientes não quelados podem envenenar a digestão, e sua utilização como biofertilizante contamina o solo. Nestes casos, os oligoelementos em concentrações elevadas podem ser tóxicos para as plantas e, consequentemente, para a cadeia alimentar. Os agentes quelantes podem ajudar a mitigar esta toxicidade ligando-se ao excesso de metais, reduzindo a biodisponibilidade e atuando como agentes protetores.

 

6) Poderia explicar o conceito de biodisponibilidade dos oligoelementos no contexto da digestão anaeróbia e por que é tão importante para o sucesso do processo?

Sr. Günther: A biodisponibilidade dos micronutrientes, ou de qualquer outra substância necessária ao bom funcionamento dos organismos, abrange dois termos: quantidade e forma química. Assim, para se dizer que uma substância é biodisponível, esta deve estar presente no meio na quantidade suficiente requerida pela célula e na forma química que permita fácil absorção e assimilação.

No contexto da digestão anaeróbia, como em qualquer outro processo biológico, a biodisponibilidade dos micronutrientes é crucial. Os oligoelementos desempenham um papel fundamental para garantir a função enzimática, o crescimento microbiano e a estabilidade e eficiência do processo anaeróbio. A seguir, explicamos brevemente os principais motivos:

  • Ativação enzimática: Os oligoelementos atuam como cofatores enzimáticos que ativam as enzimas que catalisam as reações metabólicas do processo anaeróbio. Por exemplo, o ferro, o níquel, o cobalto, o manganês e o selênio são essenciais para as vias metabólicas da metanogênese, a fase final da produção de metano. 
  • Crescimento e saúde microbiana: Os oligoelementos são vitais para o crescimento e manutenção de comunidades microbianas saudáveis. Uma deficiência de oligoelementos pode reduzir a atividade microbiana, atrasando o processo de digestão e diminuindo a produção de metano e a qualidade do biogás.
  • Estabilidade do processo: A biodisponibilidade adequada dos oligoelementos ajuda a manter um processo de digestão anaeróbia estável. Níveis insuficientes de oligoelementos podem levar a desequilíbrios no processo, como o acúmulo de ácidos graxos voláteis, que podem inibir a atividade microbiana e reduzir a produção de metano.
  • Variabilidade do substrato: A biodisponibilidade dos oligoelementos varia consoante o tipo de substrato utilizado na planta de biogás e fatores externos, como o pH, a temperatura, a presença de agentes quelantes, a agitação etc. Os substratos diferem na origem e na composição química, pelo que o tipo, a forma química e as quantidades de oligoelementos neles presentes variam. Assim sendo, compreender a variabilidade química dos substratos é vital para otimizar a biodisponibilidade dos oligoelementos e, consequentemente, garantir rendimentos elevados e estáveis de metano.

Em suma, a biodisponibilidade significa que os micronutrientes estão de forma imediata e continuamente disponíveis para os micro-organismos.

 

7) Os oligoelementos como o níquel, o cobalto, o manganês ou o selênio desempenham um papel essencial na metanogênese. De que forma estes elementos contribuem para a estabilidade e para o aumento da produção de metano?

Sr. Günther: Como referido anteriormente, estes oligoelementos desempenham um papel importante na digestão anaeróbia, particularmente como cofatores de certas enzimas envolvidas nas vias metabólicas das arqueias metanogênicas na fase metanogênica. 

Uma das enzimas mais importantes na metanogênese é a metil-coenzima M redutase (MCR), que catalisa a etapa final na produção de metano a partir da metil-coenzima M. Esta enzima requer Ni no cofator F430 necessário para a produção de metano a partir de hidrogênio e dióxido de carbono (via hidrogenotrófica) e, sem quantidades suficientes, esta fase pode ser significativamente prejudicada. O Mn, tal como o Ni, atua como cofatores de certas hidrogenases, enzimas cruciais que facilitam a conversão do hidrogênio gasoso em prótons e elétrons e, posteriormente, em metano.

Por outro lado, o Co é um componente essencial da vitamina B12, que é um cofator crucial para diversas enzimas envolvidas nas fases acetogênica e metanogênica. Uma das principais enzimas que requerem vitamina B12 é a metilmalonil-CoA mutase, que está envolvida no metabolismo do propionato e de outros substratos que podem ser convertidos em metano.

O Se é conhecido por ser um componente das enzimas envolvidas nas reações redox. Em algumas arqueias metanogênicas, o Se pode ser incorporado em selenoproteínas, que são proteínas que contêm selenocisteína, um aminoácido essencial para a função de várias enzimas. Além disso, o Se tem propriedades antioxidantes que podem ajudar a proteger os micro-organismos metanogênicos do stress oxidativo. Isto é importante porque o ambiente anaeróbico pode, por vezes, levar à produção de espécies reativas de oxigênio. O Se também desempenha um papel importante na fase acetogênica e é essencial para as enzimas celulases.

Mas a relevância dos elementos acima referidos é muito conhecida na literatura. Não é o caso do Mo e do tungstênio (W). Por exemplo, a enzima formilmetanofurano desidrogenase catalisa a primeira etapa da via hidrogenotrófica da metanogênese, e esta depende destes elementos. A presença das enzimas molibdênio formilmetanofurano desidrogenase e tungstênio formilmetanofurano desidrogenase foi reportada em Methanobacterium thermoautotrophicum, uma arqueia termofílica. Assim, a biodisponibilidade destes elementos favorece a produção de metano pela via hidrogenotrófica (metano a partir de hidrogénio e dióxido de carbono) em detrimento das bactérias redutoras de sulfato que consomem hidrogénio para produzir ácido sulfídrico.

Na minha opinião e experiência, embora o Mo seja certamente muito importante, a integração do W não se mostra necessária; muito poucos especialistas dão ao W um papel essencial. Além disso, o Mo biodisponível participa na redução do ácido sulfídrico com liberação de hidrogênio. Isto favorece a produção de metano, uma vez que o hidrogénio libertado pode ser utilizado como substrato na via hidrogenotrófica.

 

HISTÓRIAS DE SUCESSO E EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

8) A Eta GaS já realizou projetos em diferentes países, como a Alemanha e a Itália. Tem alguma experiência ou caso que considere particularmente relevante para o mercado brasileiro?

Sr. Günther: Posso referir um estudo de caso realizado em 2020 com um cliente alemão, que costumo utilizar para ilustrar a importância da utilização de aditivos nutricionais para aumentar a eficiência do processo anaeróbio, a produtividade do metano e a rentabilidade da planta de biogás. Este exemplo pode ser perfeitamente aplicado às plantas de biogás no Brasil.

Este cliente alemão operava uma planta de biogás com codigestão utilizando principalmente uma mistura de 65% de silagem de milho e erva e 35% de estrume de porco. Um aumento dos custos operacionais devido ao aumento do consumo de substrato e à baixa produtividade do metano criou a necessidade de consultoria do cliente e, assim, a Eta GaS entrou em cena. Após o diagnóstico das variáveis do processo e avaliação da biodisponibilidade dos macronutrientes e oligoelementos nos reatores anaeróbios, descobrimos parâmetros fora do intervalo adequado. Por exemplo, achamos valores elevados de pH e de ácidos gordos voláteis; remoção insuficiente da demanda química de oxigénio (DQO); elevados níveis de amônia, ácido sulfídrico e potássio; deficiência de fósforo; e valores de Se muito baixos e valores de Cu e Zn muito elevados. Este tipo de desequilíbrio é comum em reatores que utilizam misturas de substratos com uma elevada proporção de material lignocelulósico, como foi o caso deste cliente.

Resolvemos o problema dosando os nossos quelatos de oligoelementos nos reatores. Após três meses de tratamento e monitoramento das variáveis de processo e valores de macro e micronutrientes, verificamos a correção e estabilização. Como resultado, o consumo de silagem de milho (o insumo mais valioso e caro) diminuiu mais de 14%: menos 1,8 toneladas em dois meses, uma poupança de quase 100 euros por dia. Em menos de 3 meses, adicionando apenas 24 kg de quelatos/dose, o cliente atingiu uma relação custo/benefício de 1/5, ou seja, ganhou 5 euros por cada euro investido.

Olhando para o mercado brasileiro, vejo vários setores interessantes, especialmente a agricultura e a indústria de produção de açúcar e etanol, onde os produtos Eta GaS podem contribuir para aumentar a produtividade e a rentabilidade das plantas de biogás existentes. Instalações eficientes e econômicas são essenciais para garantir que a tecnologia do biogás é vista de forma positiva e possa continuar a expandir-se. A abordagem oferecida pela Eta GaS é crucial para tal. Gostaríamos de compartilhar a nossa experiência no Brasil, especialmente para garantir que os erros cometidos na Europa não se repitam lá. Não temos muito tempo para salvar o nosso planeta.

 

9) A empresa tem também experiência em aplicações personalizadas. De que forma as soluções personalizadas podem beneficiar as plantas de biogás utilizando insumos típicos brasileiros, como o resíduo do processo de produção açúcar e etanol? 

Sr. Günther: Há mais de 12 anos, comecei a desenvolver produtos personalizados: produção específica para cada planta de biogás, para garantir que as necessidades específicas pudessem ser satisfeitas da melhor e mais rápida forma. Atualmente tenho dois produtos standard, mas para o resíduo de cana e vinhaça, no entando é necessário um estudo e uma proposta não normalizada. Ao fazê-lo, garanto cumprir o meu lema: “adicionar o mínimo possível”.

Entre 2013 e 2019, fundei o Serviço Biológico da Bietifin Srl, uma organização registada na Associação Nacional de Cultivo de Beterraba Açucareira (CNB) em Bolonha, Itália. Durante estes anos, aprendi profundamente sobre a produção industrial de açúcar e álcool e os problemas enfrentados pelas plantas de biogás neste setor. No entanto, cada substrato tem uma composição química diferente e requer uma avaliação local e solução específicas.

 

10) Por que recomendaria o uso dos produtos Eta GaS?

Sr. Günther: Bem, a principal razão é que os meus produtos são o resultado de quase 25 anos de experiência no setor do biogás, e destes, 12 são experiência na aplicação e testes em milhares de produções personalizadas para todos os tipos de plantas de biogás: resíduos orgânicos de matadouros, bagaço de azeitona/laranja, vinhaça, lamas, silagem etc. Fui o primeiro a utilizar micronutrientes na digestão anaeróbia na Itália em 2007.

Os produtos da Eta GaS destacam-se pelas seguintes características:

  • Utilizamos os melhores agentes quelantes disponíveis no mercado, garantindo um desempenho único em diferentes gamas de temperatura e pH, máxima estabilidade e solubilidade imediata.
  • A mistura sólida, que inclui zeólita, torna o produto estável a qualquer pH. A dosagem em silagem (pH 3,5) ou em tanques de pré-mistura com pH superior a 8 é completamente indiferente.
  • Bastam algumas semanas para gerar níveis elevados de quelatos no digestor. A adição de quelatos estáveis significa que, após libertarem seus íons, estes capturam imediatamente outros elementos e tornam-nos biodisponíveis.
  • Com solubilidade em poucas horas, o produto fornece todos os micronutrientes essenciais. A dose inicial permite que o volume de operação do reator seja saturado.
  • Apenas são necessários 1 a 4 ppm (intervalo médio) de produto para integrar micronutrientes em 1 tonelada de material de entrada.
  • A nossa combinação de componentes inorgânicos de alta qualidade e quelatos, como o EDDHA e a zeólita, proporciona uma mistura sólida otimizada para uma integração rápida e eficiente.
  • Fornecemos os nossos produtos em bags de nylon biodegradáveis, dentro de recipientes selados em paletes padrão, que evita o contato com a humidade e os torna fáceis de transportar, manusear e dosar.

 

SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR

11) A missão da Eta GaS está focada na economia circular. Como vê a aplicação deste conceito em mercados emergentes como o Brasil?

Sr. Günther: Para mim, a tecnologia de produção de biogás é um exemplo onde o conceito de economia circular se manifesta de forma muito clara. Numa planta de biogás, os resíduos de diversos setores produtivos, que constituem o fim do ciclo produtivo e econômico, podem ser geridos e transformados numa fonte renovável de energia e biofertilizantes, ou seja, matérias-primas necessárias para iniciar os ciclos produtivos e econômicos.

O metano tem um potencial para impactar o aquecimento global 28 vezes superior ao dióxido de carbono! Milhões de toneladas de resíduos orgânicos gerados em todo o mundo continuam a ser geridos em aterros e lixeiras, na melhor das hipóteses, em instalações controladas. No entanto, estas tecnologias de gestão de resíduos contribuem significativamente para a emissão de metano para a atmosfera. E o Brasil não é exceção a esta realidade.

Sendo um país vasto com uma economia emergente altamente dependente da exploração de matérias-primas e da produção agrícola, milhões de toneladas de resíduos orgânicos gerados neste país podem e devem ser geridos em plantas de biogás.

Aprendi sobre o progresso significativo feito nas tecnologias de produção de biogás no Brasil nos últimos anos. Acredito que o país tem um potencial significativo para consolidar a utilização destas tecnologias e estou confiante de que será bem-sucedido. Espero que a Eta GaS possa contribuir para isso.

 


12) No Brasil, o custo dos insumos pode ser um desafio para os pequenos e médios produtores. Como é que os produtos Eta GaS ajudam a reduzir os custos operacionais das plantas de biogás?

Sr. Günther: Todos os produtos residuais apresentam um desequilíbrio extremamente elevado em oligoelementos, e estes oligoelementos não são geralmente facilmente biodisponíveis. Sem a seleção adequada do substrato, a otimização das misturas de substrato e a utilização de aditivos, os custos operacionais aumentarão inevitavelmente devido à redução da produtividade de metano e ao aumento do consumo de substrato. Os quelatos de oligoelementos Eta GaS são a solução para este problema.

Os principais benefícios que uma planta de biogás teria ao utilizar os nossos produtos, e que impactariam positiva e significativamente os custos de produção, são:

  • Garantem a máxima estabilidade biológica do digestor anaeróbio;
  • Menor formação de espuma e fenômenos de acidose;
  • Evitam reduções na produção de metano;
  • Otimizam a produção de biogás, permitindo que mais de 90% do carbono seja transferido para o biogás;
  • Proporcionam uma enorme flexibilidade no funcionamento da planta de biogás: reduzindo os ciclos de alimentação, até mesmo um por dia;
  • Menor consumo de energia e maior produção de biogás;
  • O tempo de partida do reator anaeróbio (o tempo que um reator anaeróbio demora a atingir a condição biológica adequada) pode ser reduzido até 50%;
  • Maior produtividade e rentabilidade da instalação. 

Por outro lado, os nossos quelatos de oligoelementos são altamente eficientes. Em média, recomendamos uma dosagem de 1 a 4 ppm por tonelada de substrato de entrada. Os clientes descobriram que mesmo um pequeno aumento na produção de metano já cobre o custo de compra dos nossos produtos.

 

OPORTUNIDADES NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA

13) O Brasil e outros países da América Latina têm um grande potencial para a aplicação da tecnologia do biogás, considerando a produção agrícola e pecuária. O que é mais interessante para a Eta GaS no mercado brasileiro?

Sr. Günther: Acredito que o aspeto mais interessante do mercado brasileiro de Eta GaS é o grande volume que potencialmente aumentará à medida que as tecnologias de biogás forem implementadas. Como bem refere, os países da América Latina, e especialmente o Brasil, destacam-se pelo grande volume de resíduos agrícolas e industriais que geram, que ainda não são recuperados através da digestão anaeróbia. Desde pequenas centrais de biogás no setor agrícola até grandes centrais de gestão de resíduos industriais, todas serão excelentes oportunidades de mercado para o Eta GaS. Podemos oferecer produtos fiáveis, projetos de processos valiosos, resolução de problemas e suporte biológico.

 

 

A INOVAÇÃO E O FUTURO DA DIGESTÃO ANAERÓBIA

14) O conceito Power-to-Liquid é fascinante. Como é que a digestão anaeróbia se integra nestas tecnologias?

Sr. Günther: O PtL, tal como o Power-to-Gas, faz parte de uma categoria mais ampla chamada Power-to-X, que se concentra na conversão de eletricidade noutros transportadores de energia ou produtos.

Infelizmente, a digestão anaeróbica também produz dióxido de carbono, e não apenas metano. Com os aditivos certos, a emissão de dióxido de carbono pode ser reduzida, mas o gás residual ainda é um poluente. Ainda assim, ele contém carbono. Aplicando o conceito Power-to-Liquid, é possível produzir metanol renovável, um combustível líquido utilizado em diversas aplicações industriais ou no transporte marítimo (Sustainable Marine Fuel - SMF).

 

15) Na sua opinião, qual será a próxima grande inovação no setor do biogás?

Sr. Günther: O uso do dióxido de carbono marcará um antes e um depois. Quanto mais bioprodutos puderem ser obtidos da planta de biogás e comercializados (biometano, bio-hidrogênio, dióxido de carbono, biofertilizantes etc.), maior será a receita e a rentabilidade da planta.

 

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MENSAGEM FINAL

16) Por fim, que mensagem gostaria de deixar ao público brasileiro sobre a importância de investir em tecnologias inovadoras, como as da Eta GaS, para o desenvolvimento do setor do biogás? 

Sr. Günther: Vi muitas centrais de biogás cometerem os mesmos erros que nós cometemos aqui em Itália há quase 20 anos. Nesta conversa, compartilhei a minha experiência para garantir que o mercado brasileiro de biogás se torne imediatamente mais forte e eficiente. Não confie em qualquer fornecedor; procure mais opiniões. Invista algum dinheiro antes de escolher um revendedor.  Questione sempre, tenha a certeza de que precisa de todo o equipamento e do volume do digestor definido, se há alternativas de tecnologia e dimensionamentos? 

 

AGRADECIMENTOS

Do Portal Energia e Biogás, gostaríamos de agradecer ao Sr. Günther pela excelente conversa e pela sua generosidade em partilhar com os nossos leitores um pouco da história, dos projetos e da visão inspiradora da sua empresa. Muito obrigado!

 

Sobre a Eta GaS

A empresa oferece uma gama de serviços e produtos concebidos para otimizar o desempenho das plantas de biogás. Seus principais serviços incluem a assistência técnica, que fornece análises detalhadas para garantir a eficiência biológica e maximizar o retorno econômico; o fornecimento de aditivos e micronutrientes de elevada qualidade necessários em diferentes fases da digestão anaeróbia; e design de processos, com foco na construção de plantas de biometano duráveis e altamente eficientes. Além disso, o Eta GaS aborda problemas específicos, como a dessulfuração e a inibição do amoníaco, utilizando produtos químicos especializados e zeólitas naturais tratadas termicamente.

A missão da Eta GaS é contribuir para o aumento da eficiência das plantas de biogás e disseminar a inovação em energia renovável em todo o mundo. Os valores da empresa incluem a paixão pelo serviço profissional, o empenho e a coragem para levar inovação e certeza aos seus parceiros e clientes, oferecendo produtos de alta qualidade, serviços focados no cliente e tecnologias fiáveis. A Eta GaS prevê um futuro em que as fontes de energia renováveis desempenham um papel central na economia global, com cada forma de energia renovável a ser aproveitada com a máxima eficiência. 
Com foco na eficiência e sustentabilidade, a Eta GaS posiciona-se como um ator fundamental na transição para uma economia circular e uma maior independência energética local. O seu compromisso com a inovação e a melhoria contínua faz dela um parceiro valioso para aqueles que procuram soluções avançadas nas áreas do biogás e das energias renováveis. Saiba mais: etagas.eu

 

 

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Autor: Oscar Valmanã    Publicado em: 20 de maio de 2025.

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